Azores - Tertia Insula - Ilha Terceira
Percorrendo por uma nova geografia metafísica, ora impressionista, ora iluminada, este conjunto de poemas de Pedro Miranda Albuquerque, ricamente acompanhado por extraordinárias fotografias de Ernesto Matos, revela-nos um vínculo empático que absorveu plenamente o animus terceirense através de um olhar certo e de uma poesia lúcida, clara, bela e comovente, que vem do lugar íntimo da verdade. Se o poeta é um fingidor , neste caso, porém, pelo contrário, o autor que aqui se desnuda é o poeta tal como eu o vivi, autêntico e permeável à luz e à sombra.
Em registo de “pintura com palavras”, expressão de Raul Brandão presente no seu maravilhoso livro As Ilhas Desconhecidas , este Azores Tertia Insula poderia bem ser um tributo ao centenário desta obra, escrita exatamente há 100 anos e publicada em 1926, onde se descreve – para além de colher sobre todas as restantes ilhas dos Açores – a atmosfera, as cores e os perfumes que encantam o viajante que visita a Ilha Terceira.
Apontamentos poéticos, aforismos, sonetos, acompanhados por magníficas fotografias, levam-nos a um patamar diverso da formulação poética e pictórica de Brandão, porque, tal como Roland Barthes nos ensinou ( Imagem, Música, Texto , 1977) a fotografia é um texto, tão forte quanto às significações que comporta. Agora, um texto escrito que se a eletricidade pretende representá-la, mas não é do que “mensagem parasitária”. Porém, o que este livro faz é outra coisa: é um discurso a quatro mãos – duas mensagens em simultâneo, que coexistem e que dialogam. Sem interferirem. Em música chama-se Polifonia.
A ilha da Liberdade – dos princípios, dos desejos, das causas, é também “ a ilha da alegria e das grinaldas” como escreveu aqui o nosso poeta. Não há outra igual.
Gabriela Canavilhas
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